Uma explicação muito simplória. E se Ramão encharcasse a praça com cheques sem fundos, de quem seria a
responsabilidade? Da correntista. Diz ela que, depois da prisão de Ruy, Ramão se dirigiu ao banco e encerrou a
conta da depoente (f. 241). Não há como a Justiça acreditar nessa história. E a prova documental disto, onde se
encontra? A tal procuração outorgada a Ramão Camargo, os comprovantes de depósitos com o nome do
depositante etc, onde estão? Em lugar nenhum. E o que diz Ruy a respeito dessa alegação? Primeiro, ressalto uma
grande contradição entre Ruy e Lílian. Lílian diz, às f. 241, que depois da prisão de Ruy, Ramão se dirigiu ao
banco e encerrou a conta da depoente. Ruy diz, às f. 239, na mesma tarde: esclarece o depoente que Ramão
Camargo foi quem passou a movimentar a conta-corrente de Lílian depois que o depoente foi preso. Esta
contradição basta. Que prisão? A preventiva de Ruy foi por mim decretada em 04.04.05 em razão de ele, cometido
o delito de tráfico em 30.03.05, ter fugido, logo a seguir, para o Paraguai (f. 67/70). Ruy foi preso em 16.09.05 (f.
56 e verso). Ele se encontrava solto e frequentando, com assiduidade, a fazenda do Grupo Molon para, como
químico prático, para adulterar as partidas de cocaína que a quadrilha, chefiada por Bito (José Clyver), que
também condenei (2005.60.05.001276-6), trazia da Bolívia, sempre passando pelo Paraguai. Isto quer significar
que, se somente a partir da prisão de Ruy foi que Ramão Camargo passou a movimentar a conta de Lílian, era esta
quem a movimentava antes. Relembro que os fatos investigados vão até o final de 2004, que corresponde ao final
do ano do último ano da movimentação financeira. Tem mais. Veja-se o que Ruy, além dessa afirmação,
continuou dizendo a respeito da origem da fortuna depositada para Lílian. O depoente não sabe de onde saiu a
quantia consignada na denúncia como sendo a movimentação financeira de Lílian no período de 2000 a 2004 (R$
1.908.507,46) (f. 239). A companheira do depoente não tinha origem para toda essa movimentação financeira (f.
239). O depoente não sabe se terceiros depositaram na conta de Lílian (f. 239). Logo, não há dúvida de que a
origem dos depósitos e dos bens, estes adquiridos em curto espaço de tempo, está no narcotráfico. 9) Crimes
antecedentes. Ruy diz que, primeiro, trabalhou na roça. Depois, teria sido ajudante de pedreiro, pedreiro e
construtor, mas não faz prova disso para demonstrar já haver exercido atividade lícita. Se bem que o exercício de
atividade lícita não exclui o crime de lavagem. A doutrina e os tratados internacionais, incluindo a Convenção de
Viena e a de Palermo, falam de uma figura chamada mescla, que é a mistura de dinheiro limpo com dinheiro sujo.
Sobre isto, fundamentarei em item próprio. Além da condenação pelo tráfico dos 101 quilos de cocaína, cuja
apreensão se deu em 30.03.2005, a 08 (oito) anos de reclusão (f. 461) e a 06 (seis) anos por associação para o
tráfico (f. 462), o réu, reincidente específico, já havia sido condenado a 08 (oito) anos de reclusão, também por
tráfico, na justiça Estadual de Ponta Porá (f. 496), exatamente no mesmo ambiente onde se deu o delito de tráfico
dos 101 quilos. Ele próprio diz que, na Comarca de Bonito/MS, foi acusado por tráfico, preso e absolvido. Lendose a sentença condenatória de Ruy, às f. 434/465, e o auto de prisão em flagrante de seus comparsas, não fica
dúvida sobre a estabilidade da organização. Primeiro, o chefe era José Clyver (Bito), traficante relacionado com
outros, no Estado. O policial federal Everaldo, condutor, com larga experiência também na fronteira, declarou:
Que nas investigações e informações coletadas acerca da Fazenda que seria o local onde Bito trazia a droga
quando vinha da Bolívia e lá a mesma era processada pelas pessoas de Auxiliador e Ruy, que são responsáveis
pelo preparo da droga para a comercialização (f. 13/14). Outro agente, também experiente, informa: que foi
apurado pelos policiais que a Fazenda do Grupo Molon era o local onde Bito armazenava droga vinda da Bolívia e
que neste local era feito o preparo da droga para a comercialização pelas pessoas de Auxiliador e Ruy Moraes
(Charles f. 18. final). O agente Rodrigo, também com larga experiência na fronteira, informa que durante as
investigações descobriu-se que a Fazenda Grupo Molon era o local onde Bito armazenava droga vinda da Bolívia
(f. 16). Importante verificar que a casa onde era feito o preparo das partidas de cocaína vindas de outro País ficava
sempre fechada a cadeado, somente tendo acesso as pessoas de Carlão (Auxiliador) e Ruy quando das vindas
periódicas dos mesmos à fazenda (prisão em flagrantes). Que, segundo Nelson as vindas da Auxiliador e Ruy na
fazenda eram constantes e no barracão onde foi encontrada a pia permanecia sempre fechado com correntes e
cadeados e só era aberto quando Auxiliador e Ruy vinham à fazenda (f. 20).Que hoje Bito e Cartãozinho
retornaram à fazenda por volta de meio dia; que obtiveram informações que esta fazenda seria local onde Bito
estocava drogas trazidas da Bolívia; que Cartãozinho e Ruy realizavam o preparo da droga, cocaína, para
comercialização no mercado, ou seja, lá era realizado o batismo da droga (f. 21). Nelson da Silva, preso na
ocasião, trabalhava para Bito há quatro anos e informa que Bito arrendava aquela fazenda há quatro anos (f. 23).
Que quando Bito chega com droga na fazenda o interrogado está na lavoura, não sabendo o que Bito faz com a
droga na casa; que hoje por volta das 16:00 horas a polícia chegou na fazenda, encontrando a droga que Bito havia
mandado com os seus funcionários esconderem; que muitas vezes vai um homem de nome Ruy juntamente com
seu patrão Bito trabalhar com a droga; que um homem de nome Cartãozinho, que deve ser parente de seu patrão
Bito, dormiu várias noites na fazenda trabalhando na droga (final de f. 23). Marcos Sérgio, preso na ocasião,
informa que depois de trabalhar por cerca de 03 anos com Bito, o interrogando percebeu que Bito mexia com
drogas (f. 27). Vê-se, pois, que, só em relação à fazenda do Grupo Molon, na zona suburbana de Ponta Porã, a
organização já atuava há pelo menos quatro anos. E Bito, pessoa que tinha extrema confiança em Auxiliador
(cunhado de José Clyver Bito) e em Ruy, tanto que aos mesmos era confiado o acesso ao depósito de cocaína, era
o chefe. Durante suas ausências, o depósito ficava fechado a cadeado, como bem disse Nélson da Silva. O chefe
do bando (Bito) tinha outras fazendas, em pontos estratégicos, como consta de f. 13/28. Os agentes que vinham
DIÁRIO ELETRÔNICO DA JUSTIÇA FEDERAL DA 3ª REGIÃO
Data de Divulgação: 08/09/2014
987/1088